Analisando letras de músicas polêmicas...do período militar!

É maravilhoso ouvir uma música e entender o contexto em que foi escrita, isto a torna cheia de significados. Você compreende a letra e a critica que ela faz de determinado acontecimento ou ação. A belíssima música de Belchior, porém eternizada na voz de Elis Regina, nos mostra o que era viver naquela época: década de 70.  Uma época de incertezas, insegurança e medo. A música que parece falar de amores, encontros, amizades, na verdade quer alertar sobre os perigos de viver no período militar no Brasil. Observe: 
Não quero lhe falar,
Meu grande amor,
Das coisas que aprendi
Nos discos..

Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor
É uma coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa...
Até este trecho, pensamos tratar-se de uma canção inocente, que fala de alguem contando para seu amor, sua vivência,seu dia a dia mas notamos já neste momento algo estranho: " Mas também sei que qualquer canto é menor do que a vida de qualquer pessoa". Oras, porque o autor diz isso? Refere-se ele ao fato de alguem estar se sentindo presa? Seria possivel isso, numa letra tão desprendida e romântica? No entanto, a partir deste momento a letra já vai nos dando a dimensão do porquê foi escrita, observe:
Por isso cuidado meu bem
Há perigo na esquina
Eles venceram e o sinal
Está fechado prá nós
Que somos jovens...
Que perigo é este? na esquina? Oras que perigos poderia haver em uma esquina? Assaltos? Pois é amigo leitor, trata-se do perigo socialista do periodo militar. Estar reunido numa esquina era perigoso naquela época, pois a qualquer momento o grupo poderia ser levado para averiguação no DOPS - polícia politica do regime militar. E o autor neste momento resigna-se diante da impossibilidade de reagir diante da opressão, como se observa no trecho " eles venceram e o sinal está fechado prá nós que somos jovens..."
No trecho a seguir percebemos a necessidade de sentir liberdade, amor, fraternidade,  essencial ao ser humano e isto faltava aquela juventude que sonhava  com a paz, a democracia, a igualdade:
Para abraçar seu irmão
E beijar sua menina na rua
É que se fez o seu braço,
O seu lábio e a sua voz...
No trecho a seguir observamos que o autor já alerta que há esperança de mudanças no panorama político, já estávamos rumando para o fim dos anos 70, era o ano de 1976 e em 1978 Geisel inicia o período de distensão, ou seja, o afrouxamento do sistema:
Você me pergunta
Pela minha paixão
Digo que estou encantada
Como uma nova invenção
Eu vou ficar nesta cidade
Não vou voltar pro sertão
Pois vejo vir vindo no vento
Cheiro de nova estação
Eu sei de tudo na ferida viva
Do meu coração...
A luta por dias melhores aparece neste trecho da musica, pois o autor não desiste de lutar. Mas lembra com tristeza os amigos que sumiram de um dia pro outro, a memória deles ficará guardada pra sempre na mente dos que vivenciaram os anos de chumbo no Brasil de 1964 a 1982...
Já faz tempo
Eu vi você na rua
Cabelo ao vento
Gente jovem reunida
Na parede da memória
Essa lembrança
É o quadro que dói mais...
Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como os nossos pais...
Nossos ídolos
Ainda são os mesmos
E as aparências
Não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer
Que eu tô por fora
Ou então
Que eu tô inventando...
No entanto o autor descreve com dor, que aquela geração que sonhava mudar o mundo acabou por aceitar a sociedade que se construiu após tanta luta, uma sociedade nos mesmos padrões burgueses da época anterior, ou seja, o capitalismo venceu... Sim o socialismo ruiu no mundo e até a URSS se desfez, percebemos que o socialismo não passou de um sonho..
Neste trecho um recado direto para todas as pessoas favoráveis a mudanças políticas sem grandes alterações no sistema( o medo da mudança), geralmente as gerações anteriores às nossas, sempre achamos que vamos mudar tudo, transformar e às vezes acabamos fazendo da mesma forma que as antigas gerações. Dessa forma, o autor questiona, será que não estamos vivendo tal e qual a antigas gerações?  
Mas é você
Que ama o passado
E que não vê
É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem...


Hoje eu sei
Que quem me deu a idéia
De uma nova consciência
E juventude
Tá em casa
Guardado por Deus
Contando vil metal...
Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo,
Tudo o que fizemos
Nós ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos
Ainda somos
Os mesmos e vivemos


Espero que faça sentido a vocês esta interpretação, pois assim eu a vejo  e espero que gostem! Confiram a musica na voz de Elis Regina!












6 comentários:

  • Anônimo | 27 de maio de 2016 às 15:25

    Moça... cuidado, você usou uma expressão inadequada do ponto de vista da informação: "perigo socialista do período militar" (????). Como assim, perigo socialista? Os militares deram o golpe no Brasil, na perspectiva de salvaguardar e aprofundar o capitalismo e não o socialismo.
    O discurso ideológico dos ditadores era a guerra contra o comunismo, sem que o povo sequer soubesse o que isso quer dizer.
    Eu precisava lhe dizer sobre isso. No mais, valeu muito trazer a sua interpretação da letra do Belchior,Parabéns!

  • Zilda Palloni Somense | 28 de maio de 2016 às 09:40

    Perigo na esquina... Não é meu ponto de vista...do compositor...do contexto da época. Como vc mesmo, o discurso ideológico dos ditadores(governo) contra o comunismo(também uma ditadura! Hehe) Quero dizer que o governo via como perigo o comunismo. Que se tornava perigo justamente pela opção capitalista do governo aliado aos interesses norte americano(lembre-se do movimento Macarthista). Obrigada pelo comentário! Espero que tenha entendido que o "perigo comunista" existia!

  • Unknown | 1 de maio de 2017 às 11:40

    Achei muito boa interpretação, porém incompleta,faltou dizer o porque do:
    Hoje eu sei que quem me deu uma idéia de uma nova consciência e juventude está em casa guardado por Deus contando fio metal.
    Nessa frase mostra nitidamente o desconforto do jovem que comprou uma idéia com toda sua força jovem, e por essa idéia lutou e muitos deram a própria vida por esse ideal; E agora percebem que aqueles que venderam essa idéia não foram capazes de lutar por e la, mas antes colocaram preços nos seus valores e venderam seus ideais, e nesse momento estão em casa guardados por Deus, ou seja protegidos, contando fio metal ou seja dinheiro. O autor finaliza a musica com a decepção de apesar de terem feito tudo o que fizeram ainda são os mesmos e vivem como vossos pais, ou seja nada mudou nesse país desde o império, as elites comandam e pagam qualquer preço e compram qualquer ideal, por que são o capitalismo e detém o capital, ou seja o fio metal.

  • Zilda Palloni Somense | 1 de maio de 2017 às 12:31

    Sim Amilson! Bem lembrado, mas pela data talvez Belquior quis dizer que quem vendeu a ideia(comunismo russo) maior signatário deste sistema não era um país onde de fato se respirava liberdade, por se tratar do ditador imperialista Stalin. Este era enfim o interesse dos russos comunistas, contar o vil metal!

  • Anônimo | 2 de maio de 2017 às 12:49

    Vc escreveu um texto bacana mas não assinou. Não sei seu nome. Mas seu escrito já vi em muitas páginas pessoais. Gostei. Mas acho chato alguém postar e citar autoria. Que pena.

  • Zilda Palloni Somense | 2 de maio de 2017 às 22:44

    Eu achei desnecessário assinar, pois foi feito em meu blog e eu o assino. Por isso não assino nada que posto aqui, pois são compostos de reflexões pessoais!