Nasci em Ibitinga-SP, e aos 15 anos minha família mudou-se para Bauru. Como todo começo, não foi bom. Adaptações difíceis, pois eu vinha de uma cidade pequena, hospitaleira, sobrenome familiar respeitado como gente honesta e sempre inovadora na vida da cidade. A música Sampa de Caetano Veloso ilustra bem esta fase em minha vida. Por questões profissionais, meu pai nos trouxe a Bauru, o tempo seria curto, mas depois como a cidade oferecia mais recursos acabamos ficando. Depois veio a faculdade, trabalho, não existia mais a idéia de voltar. E aqui estamos infelizes? Jamais! Bauru é a cidade natal de meus filhos e minha por amor, por adoção! Eu amo Bauru. Mas de onde vem esse amor, já que o início foi traumático na adaptação? Como amar uma cidade com tantos problemas, sendo um dos maiores, o do crescimento populacional, justamente pelo fato de famílias como a minha, que rumaram a Bauru nos idos de 70/80/90, inchando-a!
Em Bauru temos enchentes, trânsito começando a ficar caótico, saúde com poucos recursos, asfaltos recapeados e esburacados, pouca oportunidade de lazer, muitas crianças e jovens nas ruas se drogando, pichações em toda parte, entre outros problemas sociais. Mas quem conhece Bauru pela sua história se apaixona e o meu amor nasceu dessa forma, na aprendizagem! E sem engano, me atrevo a dizer que tudo o que você ama é resultante de um longo processo de aprendizagem. Você aprende a amar, esta é uma máxima que deveria ser utilizada em nossa vida. E digo aprender, no sentido educacional. Eu aprendi a amar Bauru e como consequência, a querer o melhor para Bauru, lutando por sua melhoria.
Como professora de história, tive que estudar a história de Bauru e inclusive montar um projeto para que meus alunos aprendessem, pois trabalhava num dos melhores projetos de magistério que esta cidade já teve: o CEFAM. Aí nasceu o amor pela cidade. Aprendi desde a chegada de Felicíssimo Antonio Pereira, entre outros mineiros disputando com os índios Kaingangs ‘ donos do lugar’; sobre a importância da Araújo Leite seu espigão; antes disso, do próprio Araújo nosso primeiro juiz de paz; do coronel do PRP Azarias Leite que muito fez à cidade; mas o principal nossa Ferrovia que alavancou nosso progresso; da produção cafeeira e fazenda Val de Palmas; da importância de nosso 1º de Agosto de 1896; do nosso córrego das flores, que tantos dissabores tem nos dado estando preso nas tubulações da Nações! Da Lagoa do Ministro, que poucas pessoas vislumbram na atual Nuno de Assis; das colônias: italiana, portuguesa, espanhola, árabe e japonesa que tanto contribuíram para nosso crescimento; da querida Noroeste do Brasil, que tanta glória trouxe ao nosso crescimento econômico, da zona da Eni, que de outra forma levou nosso nome ao Brasil; do sanduíche Bauru, que Casemiro criou em São Paulo, e todo Brasil erroneamente o faz, mas ainda assim leva nosso nome; de nosso Brasão de Armas, criado em 1929, simbolizando nossas riquezas; de Pelé que iniciou sua trajetória no velho BAC vivendo nas redondezas da Rua Sete de Setembro; das histórias da igreja matriz do Divino Espírito Santo, inspirador de nosso patrimônio; da excomunhão da cidade durante construção da Batista de Carvalho; da nossa maquininha vermelha, “o Esporte Clube Noroeste” criado em 1910 pelos nossos ferroviários juntamente com grandes clubes! Da antiga Lalai; do relógio da Casa Luzitana que foi marco orientador da cidade na década de 30; das oficinas e escolinha da Noroeste do Brasil, formando muitos jovens profissionalmente! Não estou aqui apenas divagando e suspirando no sentido “relembrar é viver”. Não! Estou exercitando cidadania, estou mostrando o valor da construção histórica de Bauru para que as novas gerações lutem no presente, construindo uma Bauru melhor, pois acredito que quem conhece seu passado, sabe que futuro construir, só se saberá aonde chegar, se tivermos clareza do caminho percorrido. Só se ama o que se conhece.
Sabendo do percurso de nossos antepassados, saberemos os problemas que hoje temos e teremos força para lutar para superá-los. Como exemplo, citarei algo que me chamou atenção ontem quando transitava pela Avenida Pedro de Toledo, que abriga o pátio ferroviário e córrego Água do Sobrado (nome recebido devido ao sobrado do pioneiro Felicíssimo que ficava às margens do córrego). O local está abandonado, bem como a Estação Ferroviária (local de glória de nossa história) o mato está alto (já parecendo uma mata). Que descaso à nossa história, à nossa origem, e para piorar o viaduto inacabado (nosso elefante branco) fechando a paisagem grotesca.
Nossos antepassados ‘lá de cima’ devem olhar com amargura, por Bauru hoje abrigar um povo que tanto descaso faz à luta que se empenharam para tornar Bauru no que é hoje: uma cidade sem limites!
Eu, uma ibitinguense de nascença e bauruense de coração, não admito ver tal paisagem do nosso centro histórico, tão abandonado ao esquecimento, e me calar. Mas aviso, nenhum povo que não conheça a sua raiz histórica será capaz de construir um futuro promissor. Jamais será capaz de amar sua cidade e lutar pela sua melhoria!
Unknown | 13 de fevereiro de 2011 às 22:17
Tenho que concordar com a Professora Zilda, amor se aprende mesmo, na convivencia e na afinidade, na amizade....como sou de cidade pequena e hoje vivo em São Paulo, sei bem do que ela fala.
Zilda Palloni Somense | 12 de março de 2011 às 00:15
Este comentário saiu no Jornal da Cidade no dia 20/01/2010, em resposta ao texto acima " Amor se Aprende", o que me deixa feliz, pois prezo muito o Jornalista Luciano Dias Pires, editor do Bauru Ilustrado, folhetim do Jornal da Cidade. É com muitíssima alegria que a recebo este comentário, pois sei que não estou sozinha nesta luta para trazer as pessoas um pouco de consciência histórica. "
Na página de A Tribuna do Leitor da edição
do JC da última terça-feira, foi com satisfação
que tomei conhecimento do “desabafo” da
professora de história Zilda Palloni Somense,
quando ela, nascida em Ibitinga, mas há muito
aqui residindo, fez um completo relato de acontecimentos relacionados ao passado da nossa
Bauru e demonstrando, com detalhes, o seu
perfeito conhecimento sobre diferentes capítulos que encerram importantes fatos históricos
da então Capital da Terra Branca.
Cumprimentamos a mestra Zilda que, em
pouco espaço, não apenas narrou influentes
episódios que destacam a trajetória de nossa
cidade, desde a transformação em município,
como também deu a conhecer um cristalino
amor pela Bauru que foi adotada como a sua
cidade do coração.
Tudo que ela citou em sua correspondência
ao Jornal da Cidade, nós, ao longo dos 36 anos
do Bauru Ilustrado, temos focalizado com
certa insistência a fim de que possamos, principalmente ao mundo estudantil, mostrar a
gloriosa caminhada da Sem Limites a partir de
1896, ano em que o município mudou de
nome, de Espírito Santo da Fortaleza para a
denominação atual, Bauru.
Ficamos satisfeitos e emocionados quando
encontramos uma professora (natural da hospitaleira e querida Ibitinga) que, conhecendo
tanto sobre a terra bauruense, através de sua
manifestação no JC, deu uma verdadeira aula
sobre a Bauru de todos nós. Ao encerrar e
cumprimentá-la, dedico à professora Zilda
aquilo que mensalmente publico no Bauru
Ilustrado: O corpo de uma cidade é o seu povo
e a alma é a sua história. Esta, se não for
preservada, respeitada e divulgada, povo e
cidade perdem a sua identidade. (Luciano Dias
Pires - editor do Bauru Ilustrado"
iriagotti | 17 de setembro de 2011 às 21:32
Que legal e emocionante!
Amar se aprende amando!
Só dá amor aquele que recebeu amor.
Moro numa cidade pequena e nunca me mudei daqui; portanto não tenho a experiência sua, de um dia ir morar numa cidade próspera, como Bauru.
Amei sua historia e estoria! Bjs